"A vida tornou-se demasiado pequena para nós. A cidade tornou-se demasiado pequena para nós. O meu quarto tornou-se demasiado pequeno para nós. Eu tornei-me demasiado pequeno para ti. E tu tornaste-te demasiado pequena para mim. Agora que estou sozinho encontro-te em cada canto. Cresceste. Eu continuo reduzido à minha insignificância. Tornei-me demasiado pequeno para mim. Tu continuas a crescer e a aparecer onde não deves. Há três noites que sonho contigo. Há três dias que me sinto completamente bloqueado. Fizeste o que fazes melhor: cortaste-me pela raiz. Nem palavras, nem sorrisos, nem o que quer que seja. Depois há esta competência de te imaginar. Esta vontade infinita de te odiar. De te odiar tanto, tanto, tanto que conseguisse esquecer as tuas gargalhadas que enchiam a casa. E compreendo perfeitamente que me tenhas esquecido. Se pudesse fazia o mesmo. Esquecia-me. Talvez assim me esquecesse de ti. Talvez assim te odiasse o suficiente para não me lembrar. Se pudesse pedia-te para sair. Mas não posso. Há vontades que escapam à própria vontade. Talvez tu sejas uma dessas vontades teimosas. Teimas em ficar e em doer enquanto ficas. E aposto que, mesmo quando te fores embora – definitivamente – deixarás um bocado de ti para trás. Não te conhecesse eu. Não fosses tu quem és. Não fossemos nós o resto teimoso do que um dia fomos."

- PedRodrigues

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